Sunday, December 2, 2018

Educação e Luta



Educação e Luta


Karolayne Gonçalves Ferreira



Desde o inicio da nossa história
O Brasil sempre teve escola
Porém negros, indígenas e mulheres ficaram de fora
Do princípio desta trajetória

Se engana quem pensou
Que os brancos protagonizaram
Pois o papel principal foi dos obstáculos
Que todos enfrentaram

O que iniciou a mudança do ensino
Que antes era apenas para um grupo privilegiado
Foi à necessidade da industrialização
Onde o país ainda se encontrava atrasado

Foram assim designados os cidadãos:
Futuras trabalhadoras e trabalhadores
Para um ensino público, gratuito e laico
Onde os empresários eram os maiores incentivadores

Em 64 na ditadura
Mudanças no ensino estavam por vir
E alunos, professores e servidores
Teriam muitas adaptações a aderir

O ensino para todos agora era obrigatório
Mas com a redução das verbas gerou impotência
Educadores e coordenadores se desdobravam
Para conseguir dar aulas mesmo com a falta de assistência

Mas essa conjuntura estava para mudar
A partir de 1980 a situação sofreu uma virada
Iniciava a era da redemocratização e do ensino público
Pois a classe política e estudantil se uniram nessa jogada

O resultado da união das entidades
ANDE, UNE e CUT deram uma revigorada
Na esperança do povo brasileiro
Em ter uma educação restaurada

A luta coletiva gerou muitos efeitos
Produziram o “Manifesto à Nação” sem embaraço
O objetivo estava cada vez mais próximo
Pois na Carta Magna os princípios ali contidos foram adotados

Na nossa Constituição Federal
A educação Pública, gratuita e de qualidade está presente
Nos Art. 6 e 236 está o direito do cidadão
E o dever do Estado com sua gente

Milhares de escolas foram criadas e melhoradas
Um novo cenário agora estava por vir
Pois agora teríamos instrumentos pra melhorar a educação
E o sistema de ensino começar a fluir

Ainda há escolas com dificuldades a enfrentar
Porém professores e alunos voltaram a ter perspectiva
Pois com a presença do apoio do governo
A luta será mais que progressiva

Agora falemos de um exemplo
De uma escola próxima da capital do nosso Estado
Estou falando do CEM 01 no Gama
Que é uma RA do DF aqui no Cerrado

Em 2009 os professores e outros funcionários se esforçavam
Neste Centro de Ensino que passava por dificuldades
Para darem aulas sem desanimo aos seus jovens
Garantindo uma educação em meio aos entraves

As salas de aula estavam esburacadas
Havia lugares sem acabamento, assim como quadros desgastados
As carteiras também estavam ruins
Além do chão com os pisos quebrados

A escola estava com recursos escassos
A verba da época não era suficiente
Para prestar um serviço adequado para esses jovens
E para os mais velhos um trabalho descente

A estrutura física da instituição estava fraca
A certeza disso veio com uma chuva muito forte
Onde surgiu a necessidade de união
De alunos e servidores em busca de um norte

A problemática central naquele momento
Não era mais sobre o estado das carteiras
Mas sim o desabamento do muro da escola
Que estava prestes a perder as estribeiras

Este muro como todos os outros
Tinha o objetivo de oferecer conforto e delimitar o espaço
Espaço aos que ali se encontravam para estudar e trabalhar
Em uma estrutura de um governo João-sem-braço

O Gama como qualquer outra região do DF
Tem desigualdades sociais, violência e criminalidade
E o desmoronamento do muro só contribuiu
Para que na escola isso adentrasse

O tráfico, violência e medo agora eram explícitos
Entre os alunos ali do Centro de Ensino 01
Pois não sabiam mais o que esperar
Esperavam tudo de qualquer um

Diante deste cenário um grupo de estudantes do segundo ano
Decidiu concorrer às eleições do grêmio estudantil
Grêmio este que estava desativado
E que precisava voltar devido a estrutura escolar hostil

Uma das chapas foi a “Chapa Online”
Onde viram que a febre do MSN oferecia outras dimensões
Para o encontro de vários jovens
Em uma  plataforma para discussões

E desta maneira a chapa foi eleita
Conseguiram fazer uma grande discussão
E a sua principal pauta era o muro
E como conseguiriam sua reconstrução

Logo após o resultado oficial da eleição
Os estudantes se reuniram com a diretoria
E na primeira reunião se deram conta
De que não sabiam o que um grêmio fazia

O que tinham em mente era um ato
Com direito a faixas, cartazes, eles queriam uma manifestação
Para que pudessem reivindicar seus direitos
Chamando até emissoras da televisão

Conseguiram neste protesto a concentração
De mais 200 pessoas, crianças, jovens e adultos
Onde fizeram uma caminhada pelas ruas cantando e gritando
Mas tudo isso sem tumultos

Além deste ato fizeram também o contato
Contato com os outros grêmios estudantis do Gama provendo uma união
Chamando todos para lutarem pelos seus direitos
Formando assim uma legião

Tiveram o apoio de todas as escolas
Principalmente a do CEM 02
Que auxiliou o grêmio do CEM 01
A não colocarem a carroça na frente dos bois

O diretor do CEM 02 também convidou
A eleita chapa a participar de uma reunião
Para que pudessem juntar todas as pautas das escolas
Na plenária da Juventude Revolução

E assim fizeram o segundo ato
Agora tiveram mais escolas envolvidas nesta manifestação
Foram em média mil estudantes
Todos unidos com uma mesma intenção

Cada escola tinha sua pauta especifica
Mas todos tinham em comum o desejo de chamar a atenção
De um Estado que não amparava o sistema
De ensino público de sua nação

O resultado que todos buscavam
Demorou pouco mais de dois anos
Um novo muro entre outras reformas
Era um dos objetivos que estavam nos planos

Porém o maior resultado não foi
O aumento do repasse das verbas ou mais funcionários atuando
Foi a (re)descoberta da força  da juventude
E o seu eco perpetuando


E para não prolongar a minha fala
Deixo com vocês a seguinte frase:
Não haverá luta progressista na educação
Se não voltarmos para nossa base.